Há quem acredite que o setor de Nãotecidos vem “nadando de braçada” por conta da alta demanda dos últimos anos por produtos higiênicos e médico-hospitalares. Mas os dados não refletem essa realidade.
Segundo apuração da ABINT (Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos), a produção brasileira de Nãotecidos apresentou queda de -1,46% em 2021, em relação ao ano anterior, alcançando 360,6 mil toneladas. Em 2020, o setor produziu 366 mil toneladas. Já o consumo aparente, que em 2020 era de 391.1 mil toneladas, subiu 4,26%, chegando a 407.8 mil toneladas.
Em 2021, com melhores expectativas por conta da disponibilização de vacinas e, por causa disso, com perspectivas de retomada da economia, a produção de Nãotecidos foi impactada com altos e baixos. Se por um lado, o primeiro semestre iniciou em alta, quando houve novo surto de Covid-19 e também novas medidas de restrição, por outro a reversão desse cenário no segundo semestre e a não recuperação da economia conforme o esperado reduziu a demanda.
Outro dado relevante, apontado pelo índice da ABINT, é o market share. Se em 2020, a indústria brasileira ficava com 83,56%, em 2021 essa marca caiu para 81,07%. “O setor de Nãotecidos foi bastante impactado, em 2021, e muito desse impacto veio da questão do mercado continuar aberto, a partir do momento que a pandemia começou perder força”, analisa Carlos Eduardo Benatto, presidente da ABINT. Ele continua: “com isso, a indústria está tendo que buscar alternativas para se manter competitiva e de pé, mas a briga tem sido inglória”.
O executivo reforça que, historicamente, já existe toda uma questão de entrave a essa competitividade, que envolve a dificuldade de acesso a matérias primas competitivas por um lado e, por outro, as portas para os produtos acabados abertas. O setor de Nãotecidos espera que agora, no meio do ano, a chamada Lista Covid – lista de produtos acabados que tiveram a entrada liberada no país sem a cobrança dos devidos impostos, para garantir o abastecimento da população no auge a pandemia – seja encerrada, uma vez que deixa o mercado brasileiro aberto e a indústria brasileira sem a devida contrapartida para seus investimentos.
“A entidade compreende a boa intenção de se facilitar a compra externa de produtos destinados ao enfrentamento da pandemia, porém indústria nacional conseguiu prover rapidamente a demanda, em volume e qualidade de produtos e tem plenas condições de seguir atendendo a população”, diz Benatto.
Outro ponto relevante que a ABINT lembra é que o preço do petróleo ficou muito elevado, por seguir a paridade com o valor internacional. O polipropileno, matéria originária do petróleo e base para a fabricação de Nãotecidos também tem o histórico de seguir o preço internacional nacionalizado, o que dificulta a competitividade da indústria brasileira. “São desafios que acabam sufocando a indústria nacional que não consegue repassar esse custo para a ponta da cadeia produtiva. “É fundamental a atenção a os problemas que estamos enfrentando, pois há risco concreto de empresas fecharem as portas, o que significaria perda de empregos e impacto significativo na economia”, completa o executivo.
Dados do setor de Nãotecidos em 2021:
· Número de empresas: 97 no Brasil
· Produção Brasileira de Nãotecidos, em toneladas: 360.640
· Produção Brasileira de Nãotecidos Spunmelt, em toneladas: 188.000
· Produção Brasileira de Nãotecidos Cardados, em toneladas: 172.640
· Consumo Aparente de Nãotecidos, em toneladas: 407.784 (Descartáveis: 275.816; Duráveis: 131.969)
· Market Share produção Brasil (volume): 81,07%
· Capacidade Instalada: para 58% das empresas permaneceu a mesma de 2020
· Investimentos em 2021: pelo menos 80% do setor investiram em expansão de capacidade ou melhoria de equipamento