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Dividendos da mentira (Cibersegurança para quem?)

22 de janeiro de 2024
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*Por Marcio Freitas

A era digital trouxe consigo não apenas avanços tecnológicos, mas também desafios crescentes, especialmente no âmbito da economia e da democracia. Mais do que uma ameaça pontual, os ataques digitais se tornaram uma constante nas preocupações de governos e empresas. Diante do panorama global, é essencial compreender os riscos e a urgência de promover a resiliência contra ataques cibernéticos. Para se ter uma ideia, levantamento feito pela Cybersecurity Ventures, mostra que os prejuízos globais causados por ataques cibernéticos podem alcançar a espantosa marca de US$ 10,5 trilhões até 2025. Como referência para essa cifra, em 2022, o PIB do Brasil foi de R$ 10,1 trilhões. Estima-se que gastos globais com segurança digital possam atingir impressionantes US$ 220 bilhões. Os impactos com roubo e violação de dados representam uma teia complexa de prejuízos empresariais que vão além das penalidades regulatórias, passam por boicotes à marca, declínio das vendas, desvalorização das ações, afetando diretamente a governança, a reputação, a saúde financeira e a retomada dos negócios.

O Fórum Econômico Mundial identificou as falhas em segurança digital como um dos 10 maiores riscos para a economia global, recomendando que as empresas coloquem essa preocupação na agenda ESG. Infelizmente, o Brasil é apontado como um dos países mais afetados por ataques cibernéticos. Triste realidade, que transformou a rotina da pergunta “se” pode acontecer para “quando” acontecerá. Somente no primeiro semestre de 2023, o Brasil sofreu 328.326 ataques digitais, ou 41,78% do total de 785.871 ataques sofridos na América Latina. Entre as motivações para os ataques em território brasileiro, estão, questões financeiras, espionagem, ativismo político, vandalismo digital ou simplesmente ocasionar algum tipo de perturbação ou desinformação.

Dois incidentes notáveis envolvendo membros do Palácio do Planalto merecem atenção: a primeira-dama Janja teve sua conta no X, antigo Twitter, comprometida por invasores, e o presidente Lula ficou durante seis meses registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como filiado ao Partido Liberal (PL), agremiação do ex-presidente Bolsonaro. A detecção desse equívoco ocorreu graças ao jornal O Globo, que informou sobre o ocorrido à Secretaria de Tecnologia da Informação da Corte. Por estes e outros exemplos, a proposta do Governo Federal de criar a Agência Nacional de Cibersegurança evidencia a crescente importância dessa esfera, tanto para o setor público quanto para o privado.

A correlação entre ataques cibernéticos e os princípios ESG é evidente. As vulnerabilidades nos sistemas de segurança não afetam apenas a operação e as finanças, mas também a reputação e as questões legais. As empresas e instituições públicas estão enfrentando o desafio de integrar a cibersegurança como parte essencial da agenda ESG, reconhecendo que a resiliência digital é crucial para suportar impactos negativos de possíveis crises.

A correlação entre ataques cibernéticos e os princípios ESG é evidente. As vulnerabilidades nos sistemas de segurança não afetam apenas a operação e as finanças, mas também a reputação e as questões legais.

Além dos ajustes internos necessários para enfrentar o aumento de ataques digitais, governos e empresas precisam aprimorar suas estratégias na gestão da informação dirigida aos fornecedores e parceiros. Em um mundo cada vez mais interconectado, onde grandes organizações carregam em sua órbita fornecedores de pequeno e médio portes, é urgente avaliar e elevar o nível de ESG desses parceiros. Pequenas e médias empresas precisam entender que a responsabilidade que têm no atual mundo dos negócios vai além de suas operações diretas. A qualificação dos fornecedores deve ser uma prioridade estratégica para melhorar o grau de competividade das pequenas e médias empresas, como um dos esforços para não serem canais indutores de violações de dados.

Em um mundo cada vez mais digitalizado, a integração da cibersegurança na governança não é apenas uma estratégia de prevenção de riscos, mas uma parte fundamental da construção de uma reputação sólida e sustentável, alinhada aos princípios ESG.

O vazamento de dados é uma ameaça crescente e sem indicativos de que irá cessar, podendo se tornar o maior destruidor de reputação de pessoas, empresas e governos, economia e democracia. Compromissos efetivos da iniciativa privada e do poder público são essenciais para evitar tragédias. Em um mundo cada vez mais digitalizado, a integração da cibersegurança na governança não é apenas uma estratégia de prevenção de riscos, mas uma parte fundamental da construção de uma reputação sólida e sustentável, alinhada aos princípios ESG. A resiliência perante os desafios digitais é uma demonstração de compromisso ambiental, social e de governança, fortalecendo a posição de empresas e governos além da inovação, defendendo princípios éticos para dinamizar de forma saudável a economia e a democracia.

É bom dizer que a desinformação e a polarização política, fenômenos correlacionados, compõe uma outra parte da preocupação. Este ano, além do Brasil, União Europeia, Estados Unidos, Índia e Reino Unido irão às urnas. Mais de 2 bilhões de pessoas estarão votando, cerca de metade da população adulta mundial. Há pouco mais de um ano, o ChatGPT apareceu para o mundo, estimulando conspirações, previsões e teorias, mas também dando o que falar no mundo prático do trabalho. Além disso, ele mostrou que o desenvolvimento da Inteligência Artificial é bem maior que nossa capacidade de compreendê-la. Diante de um cenário de propagação de informações distorcidas, feitas para interferir na opinião pública e nos rumos de eleições, a desconfiança generalizada, poderá destruir reputações, economias e democracias, respingando negativamente na mídia tradicional. Vai ser uma Torre de Babel, onde ninguém entende ninguém, ninguém confia em ninguém.

*Marcio Freitas é jornalista, relações públicas, consultor e escritor

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