O setor de compósitos, um tipo de plástico que combina resinas e reforços mecânicos, como fibras de vidro, costuma afirmar que a liberdade de design é uma das maiores vantagens para quem projeta com o material. Algo subjetivo, talvez, até que você se veja diante da fachada do edifício Heritage, que a Cyrela construiu em São Paulo. Primeiro empreendimento brasileiro com design assinado pelo estúdio Pininfarina – sim, o mesmo de alguns carros da Ferrari –, o Heritage conta com molduras de revestimento das lajes fabricadas pela paranaense Gatron, empresa especializada em processamento de compósitos.
“Esse projeto é um marco não só para a Gatron, mas também para o mercado brasileiro de compósitos”, resume Jean Zolet, diretor da empresa situada em São José dos Pinhais e mais conhecida por fabricar componentes de turbinas eólicas – nacelles e spinners, por exemplo.
Para tirar do papel o design dinâmico e repleto de curvas criado pelo estúdio italiano, a Cyrela imaginava ter de usar concreto, tanto que as lajes foram estruturadas para suportar várias toneladas. Outra possibilidade aventada pela construtora foram painéis de ACM, mas essa alternativa, por exigir muitas emendas, interrompia a fluidez das linhas desenhadas pela Pininfarina.
“Em contrapartida, os compósitos permitem a fabricação de peças curvas, quase sem emendas, leves e resistentes à corrosão e ao intemperismo”, detalha Lilian Basílio, arquiteta da Gatron.
Para efeito de comparação, um dos maiores componentes das molduras do Heritage – assemelha-se à letra “J” – tem 4 m de altura e 6 m de comprimento. Seu peso, em compósitos, é de 250 kg, mas seria de 1,5 tonelada se fosse de concreto. No caso do ACM, as placas têm comprimento médio de 1,5 m, contra 8 m dos painéis compósitos.
“Reduzimos bastante o número de emendas e, por conta da elevada estabilidade dimensional típica dos compósitos, alinhamos perfeitamente as peças aos guarda-corpos e às peles de vidro das sacadas, outra exigência do projeto”. O gap máximo aceito pela Cyrela – e cumprido pela Gatron – era de somente 2 mm. A propósito, a preocupação com o dimensional foi tão grande que a Gatron chegou a construir um protótipo da laje do Heritage em sua fábrica. “As peças só seguiam para São Paulo depois de validadas dimensionalmente no protótipo”, lembra Lilian.
Pintura automotiva
Com cerca de cem pessoas envolvidas no projeto, a Gatron produziu 3 mil m² de molduras de compósitos para as lajes das 33 unidades do Heritage, daí contando a cobertura, mais algumas peças instaladas nas áreas comuns. Como não poderia deixar de ser, todas foram pintadas com tinta metálica à base de poliuretano, a mesma usada em carros.
O processo fabril escolhido pela Gatron foi a infusão, tecnologia comumente empregada na fabricação de lanchas e pás eólicas. Mais: todas as peças foram moldadas com resinas autoextinguíveis, de acordo com as exigências da Instrução Técnica nº 10, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo.
“Esse trabalho nos permite mostrar aos arquitetos brasileiros que os compósitos são excelentes aliados para executar qualquer tipo de fachada. E, o melhor, com benefícios adicionais à liberdade de design, como leveza, durabilidade e redução de custo, pois dispensam uma maior estruturação das lajes”, conclui o diretor da Gatron.
Fonte: SLEA