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Saúde mental das mulheres - gasto ou investimento estrutural?

7 de março de 2024
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  • Letícia Dolenga e Márcio Freitas

Este artigo emerge de uma parceria, na qual as perspectivas feminina e masculina se encontram para abordar a problemática da saúde mental e os desafios enfrentados pelas mulheres no trabalho e na sociedade. Esta foi uma oportunidade de se dialogar entre os dois universos tão distintos, o masculino e feminino, e permear as forças que ambos defendem – a disseminação da importância dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) para os negócios e da busca continua da contribuição para o desenvolvimento da nossa sociedade.

É fato que com as inovações nos ambientes de negócios, cada vez mais pressionado por mudanças climáticas, conflitos geopolíticos, pressão dos stakeholders, transição energética e sociedade mais crítica aos negócios que impactam negativamente o ambiente e as pessoas, exige por transformações. No âmago deste trabalho está nosso maior desafio cotidiano: promover as melhores práticas de gestão, reforçando a importância das relações profissionais equilibradas entre homens e mulheres. Nosso propósito tem como base o impulso da educação corporativa das lideranças, motivando-as a interagir com os negócios de forma sistêmica, afinal de contas nenhuma empresa é uma bolha.

Ao contextualizar nossa missão com os ODS, começamos a refletir sobre a nossa Constituição Federal, marco da transição democrática no Brasil. Ao estabelecer que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, essa perspectiva constitucional reconhece a igualdade de gênero como essencial para uma sociedade democrática. O ODS número 3 trata da necessidade de assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar de todos, compreendendo que a saúde mental vai além da ausência de doença. Entrelaçando a Constituição com os ODS, entramos no complexo ambiente em que as mulheres enfrentam desafios singulares, malabarismos em corda bamba para responderem aos compromissos e responsabilidades profissionais, familiares e pessoais. Equilibrar esses pratos cansa e desgasta, a jornada feminina supera a masculina, a consequência é o abalo da saúde mental das mulheres, um fator prejudicial para sua ascensão na carreira, autoestima e felicidade.

A despeito dos avanços sociais, a desigualdade de gênero persiste no Brasil, influenciada fortemente por uma cultura patriarcal, imbuída de discursos polidos que camuflam práticas indesejáveis.

Em meio a um turbilhão de emoções, mulheres enfrentam desafios únicos, geralmente traduzidos em um sentimento intrínseco de culpa. A associação entre mulheres e culpa é um tema complexo e multifacetado, influenciado por fatores culturais, sociais e psicológicos. Podemos até arriscar ao dizer que quando nasce uma mulher, nasce uma culpa. Ao crescerem, a sensação de culpa só aumenta, culpadas por não darem conta de tudo, por não se manterem nos padrões estipulados pela sociedade, culpadas por não terem 48 horas em um dia para atender as demandas do cotidiano, exaustas e culpadas por não oferecerem a perfeição que lhes é imposta. Os ambientes de trabalho ainda reproduzem e perpetuam estereótipos de gênero, contribuindo para uma atmosfera perniciosa, afetando a saúde mental, aumentando a sensação de subestimação, trazendo pedras, espinhos e mais obstáculos que dificultam a evolução profissional e a carreira.

Para termos um retrato numérico da situação, recorremos ao relatório "Esgotadas: empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico", desenvolvido pela ONG de apoio às mulheres, Think Olga. O documento revela que no contexto pós-pandemia, 45% das mulheres brasileiras apresentaram algum diagnóstico de ansiedade, depressão ou outros transtornos mentais. A ansiedade afeta o cotidiano de 6 em cada 10 mulheres, segundo o estudo, conduzido no ano passado com 1078 mulheres, entre 18 e 65 anos, entrevistadas em todos os estados do país. Constatou-se também que 86% delas consideram ter uma carga de responsabilidade elevada, 48% enfrentam dificuldades financeiras, e 28% se declaram como única ou principal provedora de seu lar. 57% das mulheres entre 36 e 55 anos são responsáveis pelo cuidado direto de alguém.

A sobrecarga de trabalho, tanto familiar quanto profissional, aliada à pressão financeira, figura como um dos principais impactos na saúde mental das mulheres brasileiras.

Em um ambiente onde as mulheres enfrentam pressões significativas para atender a padrões inatingíveis, especialmente ao almejarem posições de liderança, a abertura para discutir saúde mental e a oferta de recursos de apoio tornam-se cruciais para cultivar uma cultura de cuidado e bem-estar nas empresas. Nosso compromisso reflete sobre a complexa realidade das mulheres, buscando insights para ajustes de percepção e melhorias na tomada de decisão empresarial. Incentivamos práticas de igualdade de gênero como diferencial competitivo, alertando que a saúde mental no mundo corporativo já deixou sequelas demais para continuar sendo encarada como gasto, quando na verdade trata-se de um investimento estrutural para a sustentabilidade dos negócios.

Ao adotarmos a agenda ESG em nossas atividades, estamos reconhecendo a urgência crucial de integrar uma perspectiva de gênero, especialmente quando se trata da saúde mental das mulheres.

A jornada de equilíbrio em que estamos é como caminhar em uma corda bamba, mas já é hora de abandonar essa precariedade. A trilha na corda bamba precisa dar lugar a uma estrada muito bem pavimentada, uma estrada que não só reconheça as complexidades que enfrentamos, mas que também ofereça apoio concreto e medidas tangíveis para garantir que milhões de vozes das nossas mulheres sejam ouvidas, acolhidas e compreendidas, onde desafios sejam enfrentados e bem-estar seja uma prioridade de fato genuína. Estamos prontos para mais do que apenas equilibrar os pratos, estamos prontos para prosperar em um ambiente que verdadeiramente respeite e valorize as mulheres, encarando a saúde mental como parte fundamental da sustentabilidade dos negócios.

  • Letícia Dolenga é Administradora, Business Psychologist, GCologist e Fundadora da Leve Connect. Marcio Freitas é Jornalista, Relações Públicas, Escritor e Sócio Fundador da Lex´up Comunicação

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