No exato momento em que coloco sentido nestas palavras para que elas formem um artigo, o futuro se dissolve em presente, evidenciando que a marcha do tempo não espera por ninguém. Ter ciência de que a história da humanidade é uma sucessão de gerações é fundamental para compreendermos nosso papel no contexto, cada nova geração se ergue sobre os alicerces deixados pelos que vieram antes, perpetuando o tal ciclo da evolução. Nada que desfrutamos agora seria possível sem a valiosa contribuição do passado, assim como toda e qualquer continuidade da história dependerá da participação dos protagonistas do futuro.
E por falar em futuro, estimativas apontam que em 2025, teremos cerca de 2,5 bilhões de pessoas da geração Alfa, o que fará deles a maior geração da história da humanidade. Essas pessoas nasceram de pais mais conscientes, estando na sequência de uma geração que fala muito de propósito. Contudo, a juventude enfrenta um desafio significativo enquanto o tempo e a vida os preparam para liderar o futuro. Em um mundo repleto de tentações tecnológicas e distrações, é fácil cair na armadilha de acreditar que já se sabe tudo. O filósofo Sócrates, conhecido na história por fingir ignorância para promover o diálogo, acreditava que a verdadeira sabedoria residia no reconhecimento da própria ignorância. Poderia ser um caminho para encorajar os jovens a serem mais questionadores e desafiarem suas próprias percepções. Questionar é fundamental para o desenvolvimento intelectual e para encontrar melhores respostas. É necessário estimular as futuras lideranças a serem eternas questionadoras, é preciso expandir suas fontes de informação e as fronteiras da percepção, aprofundando suas indagações para tomadas de decisão mais conscientes e sólidas.
A evolução das práticas de liderança reflete um ajuste significativo nas dinâmicas organizacionais. Até pouco tempo atrás, as lideranças eram frequentemente marcadas por traços de arrogância e narcisismo, enraizadas por uma mentalidade forjada no aprendizado baseado no passado, com abordagens que buscavam as respostas no baú das experiências anteriores, refletindo uma visão estática e menos flexível. Contudo, o cenário pós-pandemia vem provocando uma reavaliação desses padrões. As lideranças do futuro, influenciadas pela importância do propósito e do bem-estar, assumem um papel catalisador das transformações, conectando equipes em um jogo de eficiência, equidade, inovação e longevidade empresarial. Essas lideranças reconhecem a importância de compreender o passado, mas atuam com uma abordagem que vai além da análise retrospectiva, incorporando estratégias de previsão para antecipar oportunidades futuras.
Para haver êxito na jornada, a liderança do futuro precisará reconhecer na comunicação uma aliada poderosa, capaz de semear e cultivar uma cultura empresarial, baseada em colaboração, engajamento, governança e transparência. A quantidade de gerações diferentes no mesmo ambiente de trabalho é apenas um dos aspectos desse novo cenário, que demanda uma visão de negócios amparada na diversidade, equidade e inclusão. A habilidade de ouvir e compreender as necessidades das pessoas será fundamental para inspirar confiança e promover um ambiente de trabalho inovador, saudável e produtivo. A cultura é a alma da empresa e as lideranças espelham essa essência na forma como se comportam e tomam decisões. Entretanto, não basta somente espelhar a cultura, o mais importante é fazer essa cultura chegar aos ambientes de trabalho e fazer parte da rotina das pessoas.
As lideranças do futuro precisam usar como receita a humildade e o autoconhecimento, para que sejam capazes de conviver com as próprias limitações, e até aceitar opiniões contrárias ou críticas. A modéstia e a capacidade de rir de si mesmo serão qualidades valorizadas, permitindo a fluência de uma governança autêntica e humanizada. A inspiração se revela pelos laços da empatia e da conexão humana, ornados em um diálogo estrutural, autêntico e participativo, com mensagens claras, levando motivação para o engajamento de todos. Ao abraçar os desafios que surgem nesse contexto, as lideranças do futuro têm a oportunidade de deixar um legado de inspiração, colaboração, inovação e equilíbrio entre as diversas gerações que já convivem juntas no mesmo ambiente de trabalho.
A história nos ensina que a complacência pode ser uma inimiga furtiva, à espreita de qualquer lapso de comportamento ou decisão errada. Diante do contraste entre as lideranças caracterizadas pela arrogância e narcisismo, e as lideranças embasadas na humildade e no autoconhecimento, emerge uma pergunta de eixo: como evitar cair nas mesmas armadilhas que moldaram o passado? Por ser um risco, é crucial manter a vigilância, cultivar a cultura do questionamento, aprendizado contínuo e ouvidos abertos para saber o que se passa ao redor de suas decisões. A autorreflexão e a busca incessante pelo aprimoramento pessoal e profissional podem traçar um novo caminho na trajetória das lideranças, um caminho marcado pela responsabilidade, empatia, sabedoria e desenvolvimento sustentável.
Marcio Freitas – Jornalista, relações públicas, escritor e sócio fundador da Lex´up Comunicação, Governança e ESG.