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Dia Mundial da Reciclagem: a realidade no Brasil

17 de maio de 2022
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O Dia Internacional da Reciclagem, celebrado em 17 de maio, foi criado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a Cultura) com o objetivo de estimular a conscientização sobre a importância de fazer o descarte correto dos itens que consumimos. A reciclagem é um compromisso não somente de negócios, mas de colaboração com a sociedade e o futuro do planeta. É visível o avanço deste processo no mundo. No Brasil também percebemos progressos importantes, principalmente no que tange materiais plásticos. O esforço da indústria, sociedade e poder público em tornar a economia circular uma realidade, faz com que se amplie investimentos na área e com que a discussão esteja cada vez mais presente nas agendas dos empresários e gestores públicos.

Os números

Estudo encomendado pelo Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (PICPlast), divulgado em dezembro de 2021, apontou que 23,1% dos resíduos plásticos pós-consumo no Brasil foram reciclados em 2020. Em relação a 2019, a redução no primeiro ano da pandemia da Covid-19 foi de menos de 1 ponto percentual. A terceira pesquisa sobre reciclagem mecânica do material é resultado da parceria entre a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST), representante do setor de transformados plásticos e reciclagem, e a Braskem, maior petroquímica das Américas.

Realizado anualmente desde 2018 pela MaxiQuim, empresa de avaliação de negócios na indústria química com foco em análise de mercados e competitividade, o estudo tem como objetivo mensurar o tamanho da indústria de reciclagem de plásticos no Brasil, acompanhando sua evolução anual.

Diminuição de empresas e empregos

A pandemia teve forte impacto sobre a indústria de reciclagem. Já observado nos anos anteriores, o corte no número de empresas e de empregos diretos foi mais agressivo em 2020. Houve variação negativa de 4,9% no número de empresas e 11,7% na quantidade de empregos, em comparação ao ano anterior. Em relação a 2018, a variação negativa é ainda maior: 7,7% no número de empresas e 15,2% no número de empregos. O faturamento dos estabelecimentos que não fecharam, no entanto, teve uma alta de 17,3%, se comparado com 2018 -com os valores corrigidos pelo IPCA.

Volumes de resíduos plásticos consumidos no Brasil

Segundo o estudo, em 2020 foram consumidas 1,4 milhão de toneladas de resíduo plástico na reciclagem, representando um crescimento de 5,8% em comparação a 2019. Um milhão de toneladas são de plástico pós-consumo, ou seja, material descartado em domicílios residenciais e em locais como shoppings centers, estabelecimentos comerciais, escritórios, entre outros, e 368 mil toneladas de plástico pós-industrial, como sobras dos processos da indústria petroquímica, de transformação de plásticos e da própria reciclagem de plásticos.

Do total de resíduos consumidos na reciclagem, 960 mil toneladas referem-se aos utensílios de uso único, categoria que representa as embalagens e outros tipos de descartáveis. São os produtos que mais passaram pelo processo de beneficiamento, representando 68,5% do montante reciclado em 2020, conforme gráfico abaixo.

“Os resíduos consumidos provenientes de artigos de uso único (embalagens e descartáveis) aumentaram proporcionalmente à participação no total consumido. Os descartáveis mais relevantes, que justificam os 6,2% de participação, são as sacolas plásticas e utensílios “stay at home” como, por exemplo, copos, talheres, recipientes de alimentação, etc” explica Solange Stumpf, sócia da MaxiQuim.

Perdas no processo

O principal motivo de perdas no processamento ainda é a contaminação da sucata plástica com materiais indesejados, que ocorre pela dificuldade na triagem. No entanto, o estudo percebeu que o agravante para perdas maiores na comparação com o ano anterior, além do aumento da produção de pós-consumo, foi o deslocamento para resíduos de origem doméstica em detrimento aos de origem não-doméstica, que usualmente são mais limpos. No total, foram 168,8 mil toneladas de material perdido durante os processos de reciclagem, um aumento de 24,5% em comparação a 2019. O PET é o material que mais sofreu perdas, devido também ao volume de consumo.

“Cabe ressaltar ainda que, com a pandemia, muitos recicladores pequenos que adquiriam os rejeitos de sucata de recicladores maiores ficaram muito tempo sem operar, o que contribuiu para maiores perdas efetivas na conversão de entrada da matéria-prima (sucata) para a saída (produto reciclado)”, explica Solange.

Produção de Resina Reciclada

Ainda assim, houve um aumento significativo na produção de resina reciclada - 12,2% em relação a 2018. No ano de 2020, 72% da produção de plásticos reciclados no país foram de origem no resíduo pós-consumo, enquanto 28% foram de resíduo pós-industrial. Em 2018, o plástico pós-consumo representava 69% das resinas recicladas. No total, foram fabricadas 1,2 milhão de toneladas de resinas recicladas em 2020.

Entre as 884 mil toneladas de resinas pós-consumo recicladas no ano passado, 41,4% foram de PET, seguidas por PEAD (19%), PP (16,7%) e PEBD/PELBD (16,1%). Em 2019, os índices foram bem parecidos: 42% PET, 18,2% PEAD,16,5% PEBD/PELBD e 15,8% PP.

Das 366 mil toneladas de PET reciclado, 30% foram aplicadas em frascos e garrafas em geral, para produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica. Já a construção civil (22%) e as utilidades domésticas (15%) são os principais destinos do PEAD reciclado. Por sua vez, 33% das resinas PP recicladas foram aplicadas na fabricação de utilidades domésticas como, por exemplo, baldes, bacias, lixeiras, entre outros.

Produção de resina pós-consumo por região

A região Sudeste é a responsável por 55,6% da produção, com 492 mil toneladas, seguida pela região Sul (241 mil toneladas), Nordeste (95 mil toneladas), Centro-Oeste (43 mil toneladas) e Norte (11 mil toneladas). Comparado com 2019, apenas a região Norte apresentou queda (-2,7%) na produção de resina pós-consumo.

Índice de reciclagem mecânica

O índice de reciclagem mecânica dos plásticos pós-consumo ficou em 23,1% no Brasil, redução de menos de 1 ponto percentual em relação a 2019. Esse número é calculado dividindo a quantidade de plástico pós-consumo reciclado pelo volume de plástico pós-consumo de vida curta gerado.

“Pelos resultados da pesquisa, é evidente notar que, apesar da pandemia ter impactado a indústria de reciclagem do plástico, o efeito não foi tão agressivo no índice de resíduos reciclados, o que nos leva a crer que o cenário será mais positivo após a plena retomada da economia brasileira”, comenta Fernanda Maluf, do Grupo Técnico do PICPlast.

“Mesmo com uma pequena queda no índice, é possível perceber que a reciclagem mecânica de plásticos vem se desenvolvendo rapidamente no país. Com todos os problemas verificados na coleta e na triagem, devido à pandemia, a produção de plásticos reciclados seguiu evoluindo em 2020, mostrando que há uma demanda crescente por produtos com conteúdo plástico reciclado”, complementa Solange Stumpf, sócia da MaxiQuim.

Recuperação das garrafas PET

O crescente uso de produtos fabricados com plástico reciclado está apresentando oportunidades lucrativas para o mercado de reciclagem em todo o mundo. Devido ao seu alto potencial de recuperação, o PET é um dos materiais mais valorizados , movimentando  cerca de R$ 3,5 bilhões por ano com reciclagem.

O segmento bottle-to-bottle - processo que transforma uma garrafa PET pós-consumo em outra nova e pronta para ser envasada - é um dos que estão mais em alta, impulsionado principalmente pelas metas de sustentabilidade ambiciosas das grandes empresas. A Coca-Cola, por exemplo, tem 99,4% do portfólio em embalagens recicláveis e pretende em breve chegar a 100%. A mesma meta tem a Pepsico, que até 2025 quer que todas suas embalagens sejam recicláveis, compostáveis ou biodegradáveis.

A empresa CPR, do grupo Valgroup, é pioneira no segmento bottle-to-bottle no Brasil, sendo a primeira instituição no país a obter, em 2008, a aprovação da ANVISA para uso da resina PET PCR (resina pós-consumo reciclada) para contato direto com alimentos.

Segundo o Diretor de Relações Institucionais e Compliance da Valgroup, Eduardo Berkovitz, a valorização do PET reciclado alterou significativa e positivamente o cenário, em termos econômicos, da reciclagem do produto no Brasil. Dados divulgados pela Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET) mostram que a resina reciclada que valia 70% da virgem passou a ser vendida até 20% mais cara nos últimos meses.

Diante deste contexto, a CPR tem buscado aprimorar sua tecnologia para fornecer aos clientes uma resina PET PCR de alta qualidade, que possibilite sua utilização em até 100%, sem queda de performance no processo de transformação.

“Conseguir produzir uma resina com essas características já é, por si só, uma solução inovadora, uma vez que a cada ano são introduzidos no mercado mais garrafas PET de difícil reciclagem, como as garrafas coloridas, com aditivos para extensão de shelf life, com rótulos de difícil remoção, entre outras”, explica Berkovitz.

Simone Carvalho, membro do comitê técnico do PICPlast, lembra que a maior conscientização para auxiliar no processo de coleta vai impulsionar o aumento da demanda por PET reciclado. “O principal motivo de perdas no processamento ainda é a contaminação dos resíduos plásticos com materiais indesejados, que dificultam a triagem. Em 2020, foram 168,8 mil toneladas de material perdido durante os processos de reciclagem. O PET é o material que mais sofreu perdas, devido também ao volume de consumo”, afirma.

Para o executivo da CPR, as expectativas diante da valorização do PET são boas, mas poderiam ser melhores caso existisse obrigatoriedade de incorporação do PET PCR nas embalagens, hoje produzidas com resina virgem.

“No Brasil, a incorporação do PET PCR é voluntária. Isso significa que sua precificação, no longo prazo, estará alinhada à resina PET virgem. Entretanto, o custo de produção da resina PET PCR é muito superior ao custo de produção da resina PET virgem devido, sobretudo, às diferenças de escala produtiva.
Portanto, a margem de lucro do setor de reciclagem torna-se mais baixa e, como consequência, não atrai novos investimentos”, explica.

A Europa, Reino Unido e alguns estados dos Estados Unidos já possuem políticas de obrigatoriedade de incorporação e esperam, com isso, aumentar suas taxas de reciclagem.

Avanços

Segundo matéria realizada pelo UOL, o Brasil deve saltar de uma taxa de reciclagem por volta de 2% para 48% em 18 anos. A meta foi instituída pelo Plano Nacional dos Resíduos Sólidos (Planares) em decreto do governo federal, publicado no dia 15 no Diário Oficial. O Plano, que vem sendo elaborado desde 2019 e entrou em consulta pública em agosto de 2020, é um conjunto de estratégias para a gestão de resíduos nos próximos 20 anos e se adequa ao que ordenam outras leis já em vigor, como a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS, de 2010) e o Marco Legal do Saneamento (2020). A previsão é que seja atualizado a cada quatro anos.

O Planares prevê recuperar 20% de recicláveis secos e 13,5% da fração orgânica e, para isso, todos os municípios devem ter coleta seletiva de orgânicos, compostagem ou digestão anaeróbia (degradação da matéria por microrganismos com produção de biogás e um substrato com propriedades fertilizantes) em escala piloto ou comercial. Em 20 anos, mais de 60% do biogás de aterros sanitários e de digestão anaeróbia deveriam viram eletricidade. Para chegar a reciclar mais de 100 mil toneladas de resíduo sólido urbano por dia em 2040 (o país gera atualmente 217 mil toneladas/dia), como quer a meta, o plano traz a estratégia financeira, organizacional e institui como ferramenta um certificado de reciclagem.

O Planares lançou em abril o certificado de reciclagem nacional, centralizado, no programa Recicla +, com uma instituição verificadora. Já existem hoje empresas que emitem certificados e são aceitos pelos órgãos ambientais estaduais. O decreto reconhece a prática como válida e dá as regras. Basicamente, cooperativas e empresas de limpeza urbana que coletam recicláveis podem obter esses certificados ao venderem os materiais para indústrias recicladoras, via nota fiscal. As empresas que têm metas de logística reversa a serem cumpridas compram esses certificados para abater de suas metas. A diferença é que as notas fiscais passam a ser verificadas por uma empresa independente nacional, contratada pelas empresas. A centralização eliminaria o risco de uma mesma nota fiscal ser usada para abater metas em estados diferentes.

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