Artigo escrito por Pier Pesce, gerente de desenvolvimento de negócios de Economia Circular na Braskem para a América do Sul.
A crescente conscientização ambiental da sociedade e a maior busca por sistemas eficientes na gestão de resíduos são aspectos que têm exigido o desenvolvimento de soluções para os desafios globais relacionados aos resíduos sólidos. E, entre as técnicas abordadas, a reciclagem química tem se destacado como um processo cada vez mais promissor por sua capacidade de endereçar resíduos complexos.
A técnica oferece um avanço significativo em relação aos modelos tradicionais, como a reciclagem mecânica, já que utiliza o processo de calor para transformar resíduos plásticos em novas matérias-primas. O método é importante, pois permite produzir de forma eficiente e trabalhar com fluxos complexos de resíduos plásticos. Nesse sentido, é uma opção que ajuda a aumentar as taxas de recuperação de materiais em todo o mundo, além de apoiar a redução global dos resíduos plásticos e eliminar gradualmente a presença dos aterros.
Com a reciclagem química, é possível transformar o resíduo em matéria-prima circular que poderá ser empregada na fabricação de produtos químicos ou resinas com as mesmas características e desempenho daqueles produzidos com materiais virgens. E isso abre muitas perspectivas, uma vez que traz a possibilidade de ampliar a escala de recuperação e reutilização do plástico pós-consumo. Além de trazer novos caminhos aos químicos e às resinas com conteúdo reciclado, o que dinamiza (e muito) o mercado.
No Brasil, a técnica mecânica ainda é a forma mais comum estabelecida na hora de reciclar. E isso não é um problema. Afinal, ela é complementar à reciclagem química. O processo tradicional envolve coleta, triagem e transformação dos plásticos em novas resinas por meio de processos físico-químicos. Depois da separação, os resíduos passam pelo processo de lavagem, trituração, e extrusão, etapa na qual são derretidos e finalmente transformados em reciclagem pós-consumo para a fabricação de novos produtos.
Mas o que é importante ressaltar também é que a escolha do processo adequado de reciclagem depende de vários fatores, inclusive de uma análise criteriosa sobre quais são os tipos de resíduos e recursos disponíveis para os processos. Outro ponto a ser discutido é a implementação de cada modelo e seus desafios. A reciclagem química, apesar dos benefícios, é custosa e mais desafiadora. Já a mecânica, mesmo eficaz com plásticos rígidos, não consegue reciclar resíduos mais complexos. Por isso, são formas complementares e necessárias.
A Braskem, maior produtora de resinas termoplásticas das Américas, percebe o forte potencial em ambos os processos e tem investido no desenvolvimento de tecnologias que permitem melhorar principalmente o processo de químico. Além disso, a companhia busca constantemente parcerias com universidades, centros de pesquisa e empresas para viabilizar cada vez mais a economia circular no mercado brasileiro.
E a maior parte das unidades da Braskem, no Brasil, já tem certificação ISCC Plus (Certificação Internacional em Sustentabilidade e Carbono) para a utilização de matéria-prima circular oriunda da reciclagem química. A certificação se baseia no conceito de balanço de massa e assegura que a proporção de matéria-prima alternativa declarada em um produto corresponda à quantidade que entrou em produção.
E é fundamental dizer ainda que tamanho esforço da indústria em prol da reciclagem é algo que precisa andar em conjunto com a conscientização pública e o apoio governamental. Discutir o tema é essencial e colocar em prática, mais ainda. O Acordo Global dos Plásticos é um exemplo de iniciativa que visa acabar com a poluição plástica, reforçando a necessidade de políticas públicas eficazes e de uma gestão de resíduos aprimorada nos países.
A Braskem está fortemente conectada às conversas sobre o tema e busca se envolver em ações específicas neste sentido. Sabemos que, quando as companhias se interessam, sempre surge incentivos para as pessoas buscarem soluções que gerem menos impacto ao meio ambiente.
Os desafios estão postos e há um caminho longo a ser percorrido. Para construir um futuro em que mais plásticos possam ser reciclados, sabemos que será preciso haver a união dos diversos atores da sociedade. Seja no espaço público, nas organizações privadas ou mesmo dentro das nossas casas. Estamos no caminho e sabemos que tudo começa com o descarte dos resíduos da maneira adequada. É isso que irá permitir que a reciclagem seja feita, independente de qual forma. E é uma responsabilidade compartilhada por todos nós. O que faz grande diferença.
Pier Pesce é gerente de desenvolvimento de negócios de Economia Circular na Braskem para a América do Sul, contribuindo ativamente na inserção de resinas com conteúdo reciclado no mercado. Ao longo de sua trajetória na companhia, Pier já liderou as áreas de marketing estratégico de Economia Circular, estratégia de negócio de PE e foi líder do segmento de Tampas, entre outras posições. Formado em Engenharia Química pela POLI USP, com especialização em Marketing pela Fundação Dom Cabral e MBA na IE Business School, Pier possui mais de 15 anos de experiência, sendo 12 deles na indústria petroquímica.