Na edição desta semana, nosso articulista Marcio Freitas destaca a crucial relação entre a educação, o futuro das crianças e a sustentabilidade empresarial. Ele ressalta a urgência de investir na formação desde a infância, destacando a educação como a bússola essencial para o desenvolvimento individual e sustentável das organizações.
Todo mês consigo ler um livro, embora minha vontade seja ler mais que um, pois a leitura é algo tão estimulante para meu cérebro, como a atividade física é para meu corpo. Além dos livros, leio artigos, ensaios, peças de teatro, letras de música, jornais, revistas, estudos técnicos e científicos, relatórios setoriais e empresariais, notícias pelas redes sociais, além de emprestar meus olhos e ouvidos para o rádio, a TV e as pessoas com as quais mantenho diálogo em meu cotidiano. Parte da minha rotina é transformar informação e dados em cenários, conceitos, estratégias, programas e práticas de educação empresarial, comunicação e desenvolvimento sustentável.
Esta semana tive a oportunidade de ler dois estudos, que reforçam a crença de que a educação é a única chave que ligará o motor do gigante adormecido, no ritmo sonhado por todos. O primeiro dado é do Pisa, avaliação internacional sobre educação básica, realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil apresentou queda no desempenho de seus estudantes, ficando entre os piores em quesitos como matemática, leitura e ciências. Em Matemática, aparecemos na 64ª posição, atrás de países como Peru, Costa Rica e Colômbia. No quesito Leitura, ficamos com a 52ª posição, atrás de México, Uruguai e Brunei. Na avaliação de Ciências, os estudantes brasileiros pegaram a 61º lugar, pior que Argentina, Peru e Cazaquistão.
Vale dizer que até para resolver um enunciado de matemática, ou uma questão de ciência, é importante que o estudante saiba ler de maneira funcional, para que possa entender contextualização e narrativas mais elaboradas. É fundamental garantir um melhor aprendizado para nossas crianças e jovens, pois sem uma base estrutural não conseguirão desempenhar habilidades cruciais para se desenvolverem melhor no futuro. É óbvio que só se destaca no Pisa quem tem uma infância escolar regular, recebe uma alfabetização adequada e estruturante.
O tempo médio de leitura do brasileiro é pouco, desde cedo as crianças deveriam ser estimuladas a lerem livros, conhecerem histórias, criarem repertórios mentais e imaginativos, bases para assertividade, criatividade e discernimento. Infelizmente, a leitura não é só uma limitação das crianças, mas dos jovens e adultos. O Brasil ler pouco.
Estudar nunca é tarde
O segundo dado é da Fundação Dom Cabral e também percorre sobre o universo da educação, só que de outro patamar. A entidade avaliou o nível de governança das empresas médias brasileiras, baseando-se em critérios do IBGE. No geral, as médias empresas no Brasil têm um baixo nível de governança corporativa, aponta o estudo. São mais de 1.3 milhão empresas de porte médio, que respondem por algo em torno de 25% da massa salarial do país, 20% dos empregos formais diretos. Região Sudeste representa 53% das médias empresas do país, seguida de Sul, 20%, Nordeste, 16%, Centro Oeste, 8%, e Norte, 4%. O comércio é o setor que concentra o maior número de empresas médias, seguido da indústria e serviços.
Nesse universo, menos de 20% possuem um conselho administrativo, formado por pelo menos dois terços de membros independentes. Somente 36% das médias empresas dispõem de um código de conduta. A falta de governança corporativa nesse segmento empresarial prejudica o bom desempenho dos negócios, aumenta o risco de corrupção e dificulta o acesso a financiamento e expansão. Muitas carecem de uma visão estratégica, que entenda a governança e a responsabilidade social e ambiental como diferenciais competitivos, não como burocracia e gasto.
Outro ponto destacado pelo estudo é a ausência de uma comunicação de gestão, planejada e conectada com todos os públicos-alvo, com envolvimento pleno da liderança para gerar motivação e exemplo. A educação corporativa é uma importante ferramenta para implementar a governança, podendo não somente melhorar o nível de resposta e decisão, como também estimular um melhor clima organizacional, motivação e engajamento, além dos ganhos com uma relação institucional adequada. É o caminho para o desenvolvimento de estratégias corretas para melhoria da gestão e da relação com seus stakeholders.
Como poderemos ter bons profissionais para gerir as empresas do futuro, com governança corporativa e sintonia com o desenvolvimento sustentável, se não criarmos condições para as crianças e jovens estudarem melhor, com acompanhamento adequado, professores qualificados, infraestrutura, investimentos sistêmicos e uma crença de que a educação é o único meio para diminuir o fosso social, que se arrasta por séculos, em manchetes de jornais, e nas páginas da vida real de milhões de brasileiros.
Nossos estudantes e as lideranças das médias empresas necessitam da educação como bússola para alcançar o tão sonhado ambiente de desenvolvimento sustentável, que os governantes destacam em eventos como a COP28, lembrando que a próxima edição será no Brasil. Com educação, teremos uma geração de tomadores de decisão alinhados com as melhores práticas de governança e sustentabilidade, espelhando exemplos e inspirando pessoas. Quem sabe até a COP30, nossos estudantes tomem gosto pela leitura, melhorem a relação com a matemática e entendam a ciência como a dinâmica da vida.
P.S – o livro que li em novembro chama-se Pipeline da Liderança, o desenvolvimento de líderes como diferencial competitivo, dos autores Ram Charan, Stephen Drotter e James Noel, editora Sextante.