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Como seria a trilha das PMEs se elas tivessem acesso a crédito para a agenda verde?

24 de maio de 2024
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Estamos falando de 41% dos empregos formais e 27% do PIB brasileiro

O Brasil passa por uma conjuntura inédita, onde um ciclo de desenvolvimento está prestes a ser impulsionado por uma diversidade de fontes de financiamento, oriundos de bancos multilaterais, instituições de fomento e até mesmo do mercado de capitais. Trata-se de um expressivo volume de recursos que está sendo previsto para a transição energética, nas oportunidades verdes, para a chamada neoindustrialização e outras oportunidades na infraestrutura. 

Em um cenário marcado por uma crescente pressão por práticas sustentáveis e pela ascensão na agenda ESG, as pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras enfrentam um dilema crucial: sobreviver e prosperar neste novo ambiente de negócios mais exigente, onde o acesso ao crédito é um privilégio. Enquanto o país vem protagonizando em torno da agenda climática e da transição para a economia verde, as PMEs têm ficado à margem dessa revolução, devido à falta de financiamento e apoio técnico para que esse segmento empresarial consiga participar de maneira efetiva da agenda 2030.

Dados do Banco Mundial e do Banco Central do Brasil revelam a disparidade entre a contribuição das PMEs para a economia e sua participação no mercado de crédito. Embora representem 41% dos empregos formais - mais de 40 milhões de pessoas -, e contribuam com 27% do Produto Interno Bruto (PIB), essas empresas recebem apenas 18% do total de financiamento destinado ao setor empresarial brasileiro. As instituições financeiras avaliam que esse montante poderia ser de 2,5 vezes maior que o atual, indo de US$ 195 bilhões para algo em torno de US$ 680 bilhões, representando uma demanda reprimida de mais de US$ 480 bilhões.

Embora algumas poucas PMEs consigam trilhar o caminho da estratégia ESG, a dura realidade é que a imensa maioria permanece às margens desse patamar de competitividade. A escassez de crédito não apenas torna essas empresas menos competitivas, mas também as distancia de qualquer oportunidade de atualização de processos, especialmente no eixo da governança e da responsabilidade socioambiental.

O tratamento dado às PMEs é desmotivador. Não é à toa que o país figura no topo do ranking de nações onde as empresas mais fecham antes dos cinco anos de existência. Segundo a corporação International Financial Corporation (IFC), o Brasil tem um gargalo de financiamento para PMEs bem maior que seus pares. Seria preciso algo em torno de 27,2% do PIB para deixar a situação do crédito um pouco mais equilibrada. No Chile, esse percentual é de 3,5%, na África do Sul, 9,7%, no México, 14,32%, na Argentina 14,73% e na China,17,4%. 

Segundo levantamento do Sindicato das Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi), 28% desse segmento não têm conta jurídica. Estamos em plena agenda de governança, mudanças climáticas, transição energética, revolução tecnológica, mas esse retrato mostra o que acontece de verdade, no estado que representa a maior economia do país. Os dados levantados pelo sindicato mostram ainda que 87% dessas empresas, sem conta PJ, declaram utilizar contas em nome de pessoas físicas, geralmente parentes ou familiares. De cada quatro empresas que afirmam ter conta bancária, uma diz que a conta não oferece crédito para capital de giro.

A necessidade de financiamento para as PMEs brasileiras é substancialmente maior do que em outras economias semelhantes. Essa situação colocar em risco não apenas a sobrevivência desse segmento empresarial, mas também seu potencial de contribuição para a economia sustentável do país, sem contar o efeito educador e multiplicador, que seria envolver milhões de pessoas trabalhadoras na agenda ESG. Sem acesso a crédito, essas empresas seguem cambaleando, sem inovação, sem processos atualizados, sem visão perspectiva de médio e longo prazos e sem consciência de propósito empresarial.

É crucial haver um melhor entendimento sobre a importância das PMEs para a agenda de sustentabilidade do Brasil. Não é conveniente, para dizer o mínimo, ter como referência em governança e responsabilidade social e ambiental somente grandes empresas e umas poucas pequenas e médias figurando como exemplo de negócios sustentáveis. Não é inteligente isolar esse segmento do processo de evolução que o Brasil protagoniza com a agenda verde, como se fosse um rebanho condenado. É urgente mais programas de financiamento específicos para as PMEs entrarem de forma digna nas estratégias sustentáveis de negócio do milênio.

Assegurar crédito para as PMEs é fundamental para impulsionar o crescimento econômico de forma mais equânime, além de espalhar o conceito da sustentabilidade empresarial, coisa que ainda não é compreendida e nem faz parte da rotina da imensa maioria das pequenas e médias empresas brasileiras. Crédito e educação corporativa para torná-las uma vitrine e uma porta de entrada para o futuro sustentável dos negócios no país. Mais do que uma agenda estratégica de ESG, um incremento de educação corporativa, um olhar para a governança, as pequenas e médias empresas precisam de apoio e orientação para deixarem de atuar como se estivessem rastejando a cada dia pela sobrevivência. 

É imprescindível não deixar escapar entre os dedos, como se fossem grãos de areia, nenhuma dessas possibilidades, que juntas têm potencial de nos conduzir a um novo ciclo de desenvolvimento, diferente de todos os outros que a história registra. Contudo, uma questão de imensa relevância ficará registrada. Em meio a todo esse cenário de oportunidades, será que as PMEs receberão alguma atenção acurada, ou será que este iminente desenvolvimento sustentável a médio e longo prazos deixará essas empresas fora dessa trilha? 

Marcio Freitas

Jornalista, relações públicas, consultor e escritor

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